Quando fiquei amigo de um Bolsonaro

André Luiz Batista Aureliano
2 min readMay 19, 2018

14 de Maio de 2018. Data do parto de Benjamin.

Diferente do nascimento de Valentina, esse foi agendado. Acordamos cedo, cerca de 05am, tomamos banho, arrumamos as malas, tudo certo e fomos pra o hospital.

Na recepção, enquanto dava entrada na internação, eu e Érika conversávamos de várias coisas. Eu tive que ir no carro buscar algo, não lembro ao certo o quê. Na volta vi uma caminhonete estacionada. Nela tinha alguns adesivos #Bolsonaro2018 e “Melhor Jair se acostumando”. Até aí tudo bem, mais um Bolsominion no mundo. Mas então percebi que tinha um adesivo da bandeira dos Confederados na janela! Isso mesmo, a bandeira dos Confederados!

Caso você não se lembre, os confederados foram um dos lados na Guerra Civil Americana. A guerra entre o norte e o sul. Onde o Norte defendia o fim da escravidão(Não vou entrar no mérito se foi por uma boa moral ou não), enquanto o Sul defendia a permanência da escravidão.

Nesse contexto, quando vi os adesivos de Bolsonaro e a bandeira, pensei em se tratar de um extremista de direita.

Tirei uma foto do carro pra mostrar pra Érika.

Chegando na recepção, mostrei a foto e falei: “Encontre o problema nessa foto!”.

Ela não percebeu a bandeira e perguntou se era o fato de ser Bolsonaro.

De repente um cara do meu lado se vira e fala:

“Esse carro é meu, gostou?”

Negãããão!

Negaaaaaaaaaao!

Eu gelei! Esse cara vai brigar aqui, vai dar um tiro na minha cara! Eu vou ser pai de novo! Meus filhos vão ser órfãos!

Ele perguntou:

“você conhece a bandeira?”.

Eu — Sim, dos Confederados, dos EUA.

Ele — É, depois do pessoal neonazista lá de Charlotsview, o povo vive enchendo meu saco.

Eu — É porque tem um contexto histórico né?

Ele — Mas toda história tem vários lados.

Perguntei, “você é americano?” (eu imaginei que ele poderia ser do Sul e rolar algum sentimento de orgulho)

“Não. Conhece a música Sweet Home Alabama, do Lynyrd Skynyrd? É em homenagem a eles.”

Eu conheço a música e gosto muito. A capa do álbum tem a bandeira dos Confederados, mas daí eu adesivar meu carro, ainda mais tendo um contexto histórico complexo, é um pouco demais.

Ele insistiu em saber o que achei sobre a bandeira.

“Cara, não concordo com os confederados, sabe né…”

Eu tentei desconversar, não tava afim de discutir em pleno nascimento de meu filho.

Chegou nossa hora, fomos a sala de cirurgia. Benjamin nasceu lindo, grande, saudável.

No berçário, antes de ir para o quarto, encontro com ele novamente. Conversamos mais e ele explicou que o nome do filho, Dylan, era em homenagem a Bob Dylan. “Rock desde pequeno”.

Eles ficaram no quarto ao lado do nosso.

Fiquei amigo dele nesses dias, pelos corredores do hospital, embora não toquei mais no assunto dos Confederados.

Sai de lá pensando:

“Até os brutos amam”

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André Luiz Batista Aureliano

Tech Lead Engineer @ InHire . Entrepeneur, Web/App Software Developer. “Hitting the head on the keyboard, until something goods happens”